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simone cupello: jardim de yeda
10 nov 2018 – 26 jan 2019
texto eder chiodetto
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A Central Galeria tem o prazer de apresentar “Jardim de Yeda”, exposição individual da artista Simone Cupello. A exposição exibe uma única instalação, com cerca de 2.000 fotografias impressas suspensas por fios de aço. A obra inédita é a terceira da série "Varais", apresentada na Frestas Trienal de Artes de Sorocaba, em 2017.
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Estratégia para fazer florescer fotografias de jardins
Toda fotografia é resultante da observação de uma determinada forma no espaço. Toda forma aprisionada num suporte fotográfico reivindica um par de olhos que a escaneie. Todo par de olhos, por sua vez, necessita ainda que parcialmente decifrar os signos que se desprendem da superfície impressa.
Mas e se a fotografia se rebelar contra o Enigma da Esfinge? E se, diante da impositiva proposição “decifra-me ou devoro-te”, ela convocar não apenas a percepção visual, mas todo o nosso corpo para performar diante de um conjunto de imagens que desenham um volume a levitar no espaço?
As obras recentes da artista Simone Cupello problematizam nossa relação estandardizada com os acervos fotográficos ao conferir ao suporte, o corpo da fotografia, o mesmo protagonismo que devotamos às imagens.
Acomodadas em álbuns, esquecidas em envelopes, organizadas em gavetas ou em antigas caixas de sapato, as fotografias familiares, quando revisitadas, são vistas geralmente em ordem sequencial, uma a uma ou em pequenos conjuntos assentados em uma superfície. Vistas dessa forma, suscitam lembranças, emoções fortuitas, e geram conexões entre tempos e espaços distintos por meio de leituras em espirais, as quais o filósofo Vilém Flusser denominou “magia”.
Embora atue sobre cópias fotográficas vernaculares, distanciando-se dos arquivos digitais, Cupello diz não ter interesse pelas memórias iconográficas, mas sim pela interação das pessoas com a matéria fotográfica. A magia da observação das imagens, que, em geral, tem seu epicentro na súbita e atordoante ressurreição do passado no presente que elas ensejam, para a artista está deslocada para a observação do corpo fotográfico, responsável por agenciar esse paradoxo temporal e espacial. A sensualidade da anatomia desse corpo significante, nas estratégias de Cupello, projeta-se no espaço tendo por força motriz uma dinâmica coreográfica, orquestrada por formas e tons, que gera uma instância volumétrica.
Para construir a obra “Jardim de Yeda”, a artista atuou sobre o acervo de uma pessoa, que ela desconhece, e para a qual deu o pseudônimo de Yeda. O conjunto totalizava cerca de 2 mil fotografias realizadas em inúmeras viagens pelo mundo ao longo de 30 anos. Desconsiderando imagens nas quais apareciam pessoas, a artista organizou grupos de fotografias do que se revelou o foco de interesse de Yeda: flores, jardins, esculturas de jardim, florestas, animais na mata, grandes paisagens, castelos bucólicos, ruínas gregas, canteiros de flores nas cidades, flores em vasos em hotéis e restaurantes.
Criando justaposições das imagens por analogias cromáticas e de texturas, a artista investiu num curioso percurso que desvela a relação de êxtase de Yeda com o gesto fotográfico, ao mesmo tempo que inspira um volume que se edifica por sobreposições. Ao fim desse processo temos não mais um conjunto de fotografias que se prestam a uma leitura linear, mas um organismo que pulsa no espaço e passa a reivindicar não apenas a percepção visual do espectador, mas todas as suas faculdades sensíveis.
Eis que as formas, outrora aprisionadas na superfície, libertam-se por meio de uma inesperada tridimensionalidade que subordina as partes ao todo. Gera-se, assim, um renovado sistema perceptivo, nos quais as noções de distância e proximidade, semelhança e diferença, equilíbrio e simetria e articulação entre figura e fundo transbordam das partes para a espessura desse organismo flutuante que materializa, em potência, as aventuras da fotógrafa viajante. Aquilo que fenece nas fotografias, por entropia e justaposições, floresce plenamente, como magia, no jardim de Yeda.
// Eder Chiodetto
vistas da exposição
arranjo
22 set – 03 nov 2018
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A Central Galeria tem o prazer de apresentar “Arranjo”, exposição coletiva na qual participam cinco artistas: Adriana Affortunatti, Bruno Cançado, Luciana Paiva, Luiza Baldan e Rodrigo Sassi.
Arranjo é a disposição de elementos díspares, oriundos de diferentes contextos, em um novo conjunto, revelando novos significados e potenciais. Rearranjar é uma poderosa ferramenta criativa.
A mostra conta com obras de artistas que assumem como poética a fusão entre arquitetura e artes visuais, abordando as relações entre esses universos. Da combinatória matemática, que estuda coleções finitas de elementos que satisfazem critérios específicos determinados, ao arranjo, que consiste no agrupamento de um número finito de objetos em uma dada ordem, a exposição exibe obras que discutem a relação com a cidade, materialidade e formalismo a partir de seus elementos compositivos em diálogo com o espaço expositivo da galeria.
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Desarranjo
Os cinco artistas selecionados exibem obras que navegam a relação arte-arquitetura de forma poética e arrojada, dando novos significados para a materialidade e o formalismo convencional. As artistas Adriana Affortunati, Luciana Paiva e Luiza Baldan, foram convidadas pela galeria para participar da mostra com trabalhos extremamente diferentes em termos plásticos, porem todos convergindo em um fator crucial: utilizam objetos e materiais ordinários como matéria-prima de cada obra, recriam suas conotações e consequentemente desconstroem a noção espacial e o reconhecimento objetivo dos dados em questão. Affortunati constrói esculturas com itens básicos de manuseio e produção, tais como embalagens, tecidos, metais e plásticos, transformando os vínculos com os propósitos originais de cada produto e reciclando o modo que enxergamos os mesmos. Paiva apresenta trabalhos escultóricos quase bidimensionais, são superfícies metálicas contidas dentro de molduras de madeira suspensas perpendiculares ou paralelas às paredes, as quais formam desenhos geométricos com grossas linhas escuras enquadrando nada menos que o próprio ar. Baldan é a única artista com um trabalho visivelmente figurativo e documental: uma fotografia em preto e branco de um antigo boliche, onde os elementos em cena remontam um determinado momento e local desconhecidos e ao mesmo tempo excepcionalmente familiar a qualquer um, provocando uma certa curiosidade pelo oculto e simultaneamente uma sensação de nostalgia, nos deixando por fim em um território no limiar entre o real e o ficcional.
Representados pela galeria, Bruno Cançado e Rodrigo Sassi (atualmente com uma mostra individual no CCBB São Paulo), apresentam obras diretamente relacionadas ao âmbito da engenharia e da construção urbana. Cançado está presente com dois trabalhos: uma escultura/pintura de concreto branco que ilude o espectador em sua espacialidade e embaça a percepção comum de desenvolvimento e acabamento ao aludir a uma massa corrida de pintura de parede; sua segunda obra, uma escultura de chão em formato de uma coluna irregular, é composta de três paralelepípedos de madeira atrelados a uma quarta parte de dimensões semelhantes feita de concreto armado, a qual se curva num movimento progressivo de distanciamento do bloco na parte inferior, contestando a rigidez e a função estrutural do material. Sassi, por sua vez, coloca em discussão os conceitos pré-definidos de escultura e instalação, assim como a fronteira entre a esfera publica e a privada. Seu único trabalho é também o maior da exposição, ocupando uma area medular de mais de quatro metros no chão da sala. A obra é uma composição de elementos metropolitanos, incluindo a apropriação de luminárias publicas, onde concreto, madeira e vidro se acomodam de forma orgânica e se projetam como um único objeto do piso para o ambiente de circulação da mostra.
É imprescindível lembrar que a galeria se encontra no subsolo da sede do IAB - Instituto dos Arquitetos do Brasil, ou seja, alem de ser palco de um lugar histórico na metrópole paulistana, é invariavelmente fonte de ideias e discussões sobre a relação entre o individuo e a polis. Através da interação existente entre as obras dos artistas e o espaço expositivo, “Arranjo” surge como um laboratório dentro desse cosmos, transcendendo a organização cartesiana arte/arquitetura/urbanismo e rejeitando qualquer categorização tradicional relativa aos objetos mundanos: a mostra engloba o trágico e o cômico, o rústico e o refinado, o certo dentro do “errado”. Rearranjar é divertido, criativo e necessário, revela novos caminhos e desencadeia uma série de oportunidades, abrindo dialogo para a nossa relação com a cidade e proporcionando uma reflexão sobre a forma que vivenciamos o espaço urbano como um todo.
// Fernando Mota
vistas da exposição
c. l. salvaro: eira alheia
11 jul – 08 set 2018
curadoria germano dushá
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A Central Galeria apresenta a individual de C. L. Salvaro, eira alheia, sob curadoria de Germano Dushá.
Partindo da concepção da palavra "eira", uma pequena área para trabalhar, o artista se infiltra no espaço e dialoga com o processo de transformação do espaço do porão do IAB em galeria, contradizendo o ditado português "não te metais em eira alheia".
A seleção de obras se relaciona diretamente com o processo de reconstrução já forçado pela reforma da própria galeria. Os objetos produzidos refletem o percurso de C. L. Salvaro pela cidade ao utilizar de matérias primas que compõem as camadas do cenário urbano de São Paulo.
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I. Durante o antes
Esta exposição se formou em meio a tensão da reforma do próprio espaço em que toma lugar, durante os momentos prévios da abertura pública de um projeto, sob os ânimos que antecedem uma inauguração. Esta exposição ganhou corpo em meio a trabalhos físicos intensos, entre ruídos e muito calor humano, entre mudanças de plantas e planos, e tudo o mais que se deu ao longo da organização de uma nova função para o imóvel em que estamos.
II. Na eira alheia
Eira vem de area, significa pedaço de terra, é o nome que se dá aos terrenos cimentados ou lajeados usados para debulhar, secar e limpar cereais ou legumes. Daí denomina local de trabalho, propriedade, os bens de alguém. Por isso quando se diz “não vos metais em eira alheia” se anuncia demarcações, para que deixemos as questões individuais de cada um longe de nossos narizes e nossas mãos. Quando se diz “sem eira nem beira” — expressão popular surgida no período colonial — se refere às pessoas pobres, sem casa e, portanto, sem a ondulação que acompanhava a beirada dos telhados, feitas para proteger da chuva. Ou seja, aquele que não tem nem lugar de trabalho nem de morada. Aquele que não tem onde cair morto.
Este espaço que C.L. Salvaro pegou para viver e trabalhar não é seu, não é aqui que poderá cair morto. Aqui, no entanto, instalou uma espécie de ateliê, passou os dias, trouxe trabalhos antigos, juntou com o que encontrou na rua. Aqui, a todo tempo, esteve submetido ao provisório. Fez parte de seu ofício negociar com as intempéries que acompanham uma obra civil e com as vertiginosas transformações diárias. Esta cidade que pegou para trabalhar também não é sua. Recém-saído de Belo Horizonte após muitos anos, e em trânsito há alguns meses, o artista abarcou aqui, arrumou um canto e achou um jeito de fazer seu ofício. Decidiu experimentar o espaço e a cidade em muitos aspectos: histórico, material, social, espiritual. No jogo de corpo cotidiano, imediato, urgente.
C.L. se meteu na eira alheia, aportou numa oportunidade, armou um tramado para lidar com o passado e as atuais dinâmica do ambiente, para contar casos, para expor coisas dos outros, recolhidas do chão. O imóvel, que já foi um clube de artistas, depois um auditório e um porão, com certeza serviu a muitos programas, abrigou inúmeros encontros, e agora, pós-obra e com esta exposição, virou do avesso, se lança no risco, na via de se tornar outra coisa.
III. Erro, acaso e resíduo
Aqui se apresenta uma sequência de tentativas que aceitam o erro como parte integral do processo, o tomando em pé de igualdade com qualquer acerto. O artista o promove, e lida com o paradoxo de acertar ao cometer o erro. Há, desse modo, a abertura total ao acaso.
De tudo isso ficou um pouco. Fica sempre um pouco de tudo. O concreto agarrado na viga, as marcas da forma de papelão no cimento, as conversas, as experiências das caminhadas em São Paulo. O que se reuniu aqui como trabalho evidencia, cada peça a sua maneira, vidas passadas em outras formas ou a menção a sistemas maiores. São restos: naturalmente só podem existir sob o signo do que já é passado, mas também nos arremessam sobre o que ainda há por vir. Esses pedaços que sobraram das ações do tempo, do uso ou de outras forças vetoriais, se conservam de forma dualística: como monumentos residuais, afirmando a lembrança; e matéria-prima, servindo de substância para próximos eventos.
Como partes de um mesmo tratado, cada elemento conta uma história, sob perspectivas, tons e velocidades diferentes. Porém, não o fazem de uma posição de afirmação, apenas sugerem. Permitem que os acessemos por meio de associações operadas pela nossa memória e imaginação, ventilando possibilidades para suas biografias e futuros, para o que foram e para o que poderão se tornar. Neste exercício, operamos por duas vias: por um lado investigamos o ato de ruir — da textura da entropia às valorações que categorizam o senso de utilidade —, por outro, exploramos a potência do que foi tomado como obsoleto.
A ruína está dada, sempre, mas sua dimensão completa é inapreensível. Lidar com uma possível materialidade de sua manifestação é dar um salto de fé, que abraça a dúvida, a situação de risco, a parte obscura do nosso entendimento. A teia de ferro que junta embalagens, pedaços de madeira, cacos de gesso e massas corridas trata do grau de incompletude da travessia, que agarra os resquícios do movimento. Revela marcas, vestígios, separações, assim como novas contingências, novas convivências. Diz respeito ao que sobra da gente enquanto seguimos. Nada passa por inteiro, nem fica por inteiro.
// Germano Dushá
vistas da exposição
o lugar do centro
10 mar – 20 abr 2018
curadoria artur lescher
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A Central Galeria tem o prazer de apresentar “O Lugar do Centro”, exposição coletiva sob a curadoria do artista Artur Lescher, da qual participam treze artistas: Eduardo Basualdo, Laura Belém, Nelson Félix, Marcius Galan, Cao Guimarães, Carmela Gross, Hernán Soriano, Guto Lacaz, Laura Lima, Milton Machado, Odires Mlászho, Rodrigo Sassi, Otávio Schipper e o Coletivo Situação de Rua.
A exposição que inaugura o novo espaço da Central Galeria - no histórico prédio do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), localizado no centro da cidade - discorre pontualmente sobre as acepções da palavra “centro” e seus diversos domínios, derivados da geometria, da composição, do urbanismo, da mecânica, da geopolítica, etc. A seleção de obras, consequentemente, perpassa diversas mídias, como vídeo, pintura, objetos e instalações, todas elas tratando, à sua maneira, de uma ideia de centro.