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ros4: esse casco pode ter tudo que esse casco quiser ter!


25 mai - 3 ago 2024
curadoria de nutyelly cena

  • A Central Galeria tem o prazer de anunciar a abertura de "ESSE CASCO PODE TER TUDO QUE ESSE CASCO QUISER TER!", primeira individual da artista Ros4 em São Paulo, curada por Nutyelly Cena.

    Convergir as linguagens empregues por Ros4 ao longo de 10 anos é um dos motes da exposição. Seu trabalho transita em diferentes suportes e plataformas: música, vídeo, fotografia, performance e instalação. A mostra assinala o lançamento do EP R.O.S.4 e a transição de nome da artista visual, rapper e criadora de conteúdo para a internet, à frente do canal do YouTube Maloka Imponente.

    Fotografias, como a série "Tratamento de reposição hormonal automedicado" (2015), em que a artista se auto retrata durante sua hormonização; vídeos, entre eles, o clipe da música Maria Navalha / Salve Seu Zé (2024), se juntam na expografia de forma instalativa, ao lado de trabalhos recentes, como JukeTrava (2024) e Barraco 2 (2024).

    A curadoria destaca o processo espiralar do tempo que envolve a criação de Ros4 - um recorte que expande as possibilidades de debate para além da crítica dos marcadores sociais da diferença.

    "Em suas obras, Ros4 não apenas busca desafiar as convenções religiosas tradicionais que a limitam y não apenas rejeita-as essas normas, mas também defendem uma profanação da ontologia travesti que foge das dimensões cronológicas e lineares da cisgeneridade, que muitas vezes é como uma máquina de moer desejos" comenta a curadora no texto da exposição, que conclui: "Seus deslocamentos nestes dez anos, em certa medida, vêm ao encontro de si mesma, como um corpo-casco-couraça daquilo que aprendeu a ser!"

    Vida e experiências de Ros4 estão no centro de sua obra, que, abordadas de forma transgressora, abrem espaço para redefinir noções de visibilidade e representatividade das identidades trans e travestis no campo das artes. A liberdade, as impermanências e a autonomia estão entre os questionamentos, evidentes em seus autorretratos e rimas: veículos poderosos para redefinir e reconfigurar as estruturas convencionais.

    Ros4, nascida na cidade satélite de Gama, Distrito Federal, é artista visual, rapper e criadora de conteúdo para a internet. Thanksgiving, Vortic (2021); e Uma trajetória, Casa da ONU - Brasília (2017) estão entre suas exposições individuais. Tem obras nas coletivas DOS BRASIS - Arte e Pensamento Negro, Sesc Belenzinho - São Paulo (2023) e Sesc Quitandinha - Petrópolis (2024); Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, Inhotim - Brumadinho (2022); A margem é mais larga que o vão, Central Galeria - São Paulo (2021); Programa Convida, IMS (2020); 36º Panorama de Arte Brasileira, MAM - São Paulo (2019); Histórias Feministas, MASP - São Paulo (2019); 14ª Bienal - Curitiba (2019); Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro, Paço das Artes/MIS - São Paulo (2017); entre outras. Participou da residência MilesKM, Tanteo Art Residency - Londres(2015).

  • A fabulação travesti como uma fuga ao sonho de outros mundos possíveis

    Salve a Malandragem! Que permite que pensemos sobre as nossas jornadas e reconhecer a recusa dos espaços de se adaptarem às práticas experimentais e libertárias, lideradas por comunidades e influenciadas por movimentos sociais, grupos indígenas, quilombolas, espaços religiosos e laicos, todos engajados em ativismos LGBTQIAPN+, feministas e de outras causas. Em meio aos sistemas de produção contemporâneos, pensar as presenças e as impermanências nas estruturas é ainda essencial para fomentar trajetórias para além das políticas de representatividade. É urgente criar equipamentos culturais e políticas públicas de fomento à produção e à fruição em que as nossas vozes, mesmo que marginalizadas, ecoem as memórias subalternas possam ser celebradas e compartilhadas, contribuindo para a destruição das concepções de mundo como conhecemos.

    Permitir que nossas corpas e vozes sejam expressas neste mundo, ainda que de maneira expropriada, controlada e negociada, é atender ao desejo de evidenciar o poderoso e diverso poder da imaginação de fabulá-lo e reabilitá-lo.

    Expectativa vs. Realidade. A primeira exposição individual da Ros4 é a materialização de um sonho fabulado em coletivo y ancestral, que sintetiza um processo de reconhecimento que vai além de simplesmente abordar sua trajetória artística.

    Como espaço do sonhar, a exposição traz uma perspectiva reflexiva da artista que conecta sua carreira e seu legado de maneira profunda e significativa. Determinadas produções guardam a potência de se tornarem abrigo e resistência dos encontros com a poesia e a música. Como espaço do sonhar, a exposição traz uma perspectiva reflexiva da artista que conecta sua carreira e seu legado de maneira profunda e significativa. Determinadas produções guardam a potência de se tornarem abrigo e resistência dos encontros com a poesia e a música.

    O processo do tempo espiralar e as transmutações da Ros4

    Refletindo sobre os sentidos atribuídos às migrações para se tornar artista e seus deslocamentos territoriais entre Gama (DF) e Zona Leste de São Paulo, em São Miguel Paulista (SP), a exposição apresenta a jornada de reconquista de sua mobilidade interior, um caminho de volta, que a conduz à sua dignidade humana, intrinsecamente ligada à constante busca pela preservação de sua integridade física e espiritual. Como bem expressa a letra da música Chega de se esconder! de seu novo EP, R.O.S.4, o momento é de, em pares, escapar das mazelas e da sujeição da colonização, de expropriações e estratificações dos seus territórios e corpos, guiados pelas macumbarias: tudo que é meu é delas/mas nada delas é meu, eu acompanhando elas a noite e a magia aconteceu!

    Como artista, seus percursos poéticos florescem quase que construindo um arquivo do futuro, reconhecendo o processo como algo em constante transmutação e transformação. Ao questionar se na história situada de Xica Manicongo havia espaço para ser uma travesti, a artista busca desconstruir a rigidez da identidade e abrir caminho para a fabulação especulativa de uma ancestralidade travesti em um tempo-espaço compartilhado, onde a ética de percepção comum possa ser redefinida e continuada na trajetória da Ros4.

    O desafio se fez quando buscamos explorar a vida e o alter ego artístico de Rosa Luz, uma vez que foi sua persona na internet que a levou a movimentos de recusa aos códigos da subalternidade e brancura. Um corpo que, para não ser decapitado pela sociedade, renasce como Ros4, sendo fiel ao que y a quem acredita, subvertendo a própria existência – transmutando-se.

    Ao adentrar nos seus arquivos pessoais dos últimos dez anos, percebe-se que estes não se limitam a simples imagens, vídeos e letras a serem lidas. São, na verdade, espaços de fabulação e criação. Neles há rastros e lacunas que se assemelham àqueles que compartilham o seu mundo com outras pessoas, transcendendo as fronteiras de determinado tempo e lugar. Nos autorretratos, identificamos fronteiras, permeabilidades, narrativas entre seus deslocamentos atravessados pelo espaço-tempo que converge em aparição entre vida e morte, como se, nas atemporalidades, a própria história desses registros batesse às portas e quisesse mostrar algo.

    Almejamos apresentar a liberdade de ser para além da escassez de capital na trajetória de muitas artistas mulheres (trans, cis, travestis) e pessoas não-binárias: negras, originárias e não-brancas em diferentes classes sociais que seguem forjando movimentos que transcendem as normas e os discursos dominantes sobre o ser artista e o sobreviver-sendo. Em suas obras, Ros4 não apenas busca desafiar as convenções religiosas tradicionais que a limitam y rejeitá-las, mas também defende uma profanação da ontologia travesti que foge das dimensões cronológicas e lineares da cisgeneridade, que, por sua vez, muitas vezes funciona como uma máquina de moer desejos. Por isso, apresentamos a busca por construir outros mundos desejantes – contradizendo o desejo original da branquitude – com autorreconhecimento e da multidisciplinaridade do ser, buscando ultrapassar os regimes de violência da vida negra travesti, forjada antes de tornar-se Ros4. um corpo-casco-couraça daquilo que aprendeu a ser!

    Seus deslocamentos nestes dez anos, em certa medida, vêm ao encontro de si mesma, como um corpo-casco-couraça daquilo que aprendeu a ser!

    Ser trans/travesti é um ponto de partida, mas não é suficiente para o circuito das Artes. Ao ser curadora das próprias éticas, experimentações e obras, Ros4 busca subverter medos, complexos e inverdades ontológicas da cultura que naturaliza a cisgeneridade. Minhas performances deliberadas buscam escapar do esforço deliberado, criando formas diversas de ser artista e mulher. No tempo que negamos a negação do corpo travesti, como seguir reivindicando a verdade como pensamento de mundo e buscando existir além da norma e do discurso? Minha trajetória como artista é uma obra de arte em si, uma declaração política e ética de existência e da resistência, e uma recusa de ser aquilo que se espera para ser aquilo que se está criando, transmutando.

    E nesse processo do tempo espiralar,
    Ros4 anseia por multiplicar
    as possibilidades de sua presença no mundo,
    perpetuando assim um ciclo profundo.
    Espiritualidade, Amadurecimento, Crescimento, Coletividade,
    direito à opacidade, à recusa, à dignidade.
    Práticas de cura, macumbas em ação,
    letras e rituais, sua expressão.
    Fundamentais para sua radicalidade,
    permitindo que Ros4, em sua verdade y errâncias,
    possa existir através da música, contra a norma,
    negando a negação, esse corpo-casco que pode ser tudo que esse casco puder ser!


    // nutyelly cena e ros4

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