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mano penalva: balneário
27 out – 23 dez 2016
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A Central Galeria tem o prazer de apresentar Balneário, primeira exposição individual do artista baiano Mano Penalva na galeria. A mostra é composta por obras inéditas, transitando entre pinturas, esculturas e instalações que evidenciam a produção, circulação e utilização de objetos no mundo.
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Tudo Passa
Bernardo Mosqueira(ao meu amor)
Communis causa // Segundo o artista Mano Penalva (Salvador, BA – 1987), na exposição “Balneário”, sua primeira individual na Central Galeria, estão reunidos trabalhos desenvolvidos “por meio da apropriação de coisas comuns”. Enquanto a palavra “coisa” vem, de forma muito interessante, do latim causa, “razão de, motivo de”, a palavra “comum” vem do latim communis, “compartilhado por muitos”. Com a intenção de refletir sobre a presente produção desse artista, é proveitoso investigar quem seriam os “muitos” e de que forma “compartilham” da matéria-causa constituinte de seus trabalhos.
Coloide cachaça // Na presente exposição, o que une todas as obras é o fato de se relacionarem, ao mesmo tempo, com a ideia de “produto nacional” e de “movimento”. Podemos, a fim de análise, dividir esses trabalhos em 3 conjuntos: um deles formado pelos trabalhos da série Origem, o outro formado por quatro grandes instalações e, por fim, isoladamente, um vídeo.
Janela com vista para o porto // O primeiro grupo é composto por obras construídas a partir de materiais para embalagem e transporte de produtos para a exportação, como sacolas, redes e tecidos plásticos, sacos de juta, cordas, elásticos e ganchos.
É coisa nossa // O segundo é formado por instalações baseadas em objetos e materiais do imaginário e do cotidiano do homem brasileiro, como cadeiras de balanço, escovas para lavar roupa, pés-de-camelô, cortinas de bolinhas de madeira, palha, imagens de coqueiros, etc.
Ausente nas bandeiras // O material de embalagem que compõe os quadros da série Origem não guardam mais nenhum insumo, mas carregam a capacidade de nos lembrar que um dia participaram do movimento de uma relação de permuta. O “produto nacional”, nesse caso, é vestígio do comércio de exportação.
Tecido de grilhão // Globalização é o nome do processo definido pelo aumento exponencial das relações internacionais em escala planetária possibilitado pela facilitação tecnológica das dinâmicas de troca de produtos e ideias. A Globalização é um fenômeno derivado da expansão do Capitalismo e, portanto, não pode ser dissociado da disseminação do Patriarcado, do Colonialismo e do sofrimento que esses carregam. A Globalização acontece de forma diferente em espaços de Sul e de Norte.
Boa // Sabemos que existe o Sul. Sabemos bem como ir ao Sul. Precisamos aprender a partir do Sul e com o Sul.
Sinto sua falta? // Além da significativa ausência dos insumos nas embalagens da série Origem, há outra falta retumbante. O título da presente exposição se origina no nome “Balneário Nacional” de um antigo botequim ainda em funcionamento na Praia José Bonifácio, na Ilha de Paquetá, localizada no fundo da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O título “Balneário” foi escolhido pelo fato do uso dessa expressão poder se referir tanto a um comportamento frívolo em uma divertida cidade junto ao mar quanto ao caráter de transitoriedade, impermanência e passagem dessas cidades. Porém, talvez tão importante quanto a palavra que restou no título seja o termo cuja omissão agora ilumina o espaço expositivo da Central Galeria.
Para semear fora do sulco // O nome da praia paquetaense, dedicado ao “Patriarca da Independência”, talvez possa ser ironicamente interessante para as discussões dessa exposição. José Bonifácio nasceu em Santos em 1763, estudou direito em Coimbra, pesquisou a pesca internacional de baleias, morava em Paris durante a fase inicial da Revolução Francesa, tornou-se um estudioso mundialmente importante da mineralogia, viajou por toda a Europa descobrindo 12 novos minérios (incluindo o elemento químico lítio), casou-se com uma irlandesa, lutou contra as tropas napoleônicas, voltou ao Brasil e foi nomeado por Dom Pedro I como Ministro de Reino e de Negócios Estrangeiros. Foi figura central nas articulações para a Independência do Brasil e, após desavenças com o Imperador, exilou-se no Sul da França. Inocentado, foi chamado de volta e morreu cumprindo prisão domiciliar na Ilha de Paquetá. Talvez, no Brasil durante aquela virada do século XVIII para o XIX, poucos pudessem entender melhor a dinâmica de comércio internacional e das relações de troca de ideias e produtos entre nações quanto o “patriarca” José Bonifácio.
Devaneamos, pois precisamos // No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Antes de tudo, houve Exu, há Exu, que é o próprio movimento, a transformação, o desejo, as possibilidades, a linguagem, o tal Verbo que é Deus. Daquela talvez primeira explosão, surgiu toda a existência: da mesma primeira poeira de estrela, desde então em constante mutação. Pouca coisa é mais importante e esclarecedora do que isso. Por que motivo reproduzir uma forma de pensar que se afasta da magia comum a tudo?
A origem do totalitombamento (spoiler: as respostas são “não”, “não” e “sim, justamente”.) // Será que devemos continuar tentando reproduzir a forma de encarar o mundo a partir da prosa e do cálculo? Surgiu, viralizou, criou caravelas, encontros fortuitos, bombas atômicas, câmeras de segurança, batalha de facebook, bichas lacradoras, Donald Trump, Donald Duck, as expressões Congo Belga e “abacaxi flambé na cachaça”. Pois, agora, a forma de lidar com a verdade a partir da prosa e do cálculo devora mortalmente o próprio rabo. Ou seria um simulacro?
O que é que Itabira tem? // Na relação com o estrangeiro, percebe-se que o nosso chutar de latas é um caminho especial para descobertas quânticas. Afinal, o pó de nosso barro é um nascer em que bailam mésons. Há, em nós, um quarar a roupa, balançar na cadeira vendo o povo passar na calçada, ver passarinho, falar com planta, dar comida para a cachoeira, transar como se não houvesse amanhã, terça-feira gorda, garrafada, benzedeira, pular onda, mau-olhado (Deus nos livre), bater com o nó dos dedos três vezes na madeira. Nada disso salva o mundo, mas, na Globalização, o mínimo de saúde é conseguir discernir o que é produto para exportação e que deve ser vendido daquilo que faz parte de nossa diversidade, de nossa carne diversa, e que deve ser amado, vivido e vivo.
Brasileiro, uma contradição // Uma identidade é como um círculo. Tem um centro e um limite. Mas, como toda medida e desenho tem erros, o círculo não existe.
Meu Brasil Brasileiro // Porém, não confundamos, o entendimento de que diversidade é vida com uma defesa da tradição, que torna o passado mais remoto e o futuro falsamente definível.
Moema, Godot e Cravan // Em “Balneário” há ainda, além das série Origem e do grupo de quatro instalações, o vídeo “Atlântico”, cujo som de mar ecoa por boa parte da exposição. O plano escolhido nos permite ver parte da areia, as ondas se desenrolando até a beira da praia e o horizonte com ilhas. O tipo de edição faz parecer que a própria câmera balança: em nós, a agitação do mar que nos fundou, o ninar materno e salgado que cuida de nossas cabeças. Vemos também um chuveiro, muito característico das praias da Zona Sul carioca, cujo jorrar d’água muda de direção com a força do vento. As coisas mudam o tempo todo e tudo passa, está passando, passou. Em frente ao vídeo, encaramos o horizonte como se esperássemos alguém chegar. Há um Ayudame a mirar! ecoando em cada ponto onde as veias abertas da América Latina tocam o mar. De que servirá esse chuveiro tão nosso, quando estiverem aqui conosco?
Você está seguro ou A Fuga // Há alguns anos, Mano vem se dedicando a pesquisar a formação da cultura brasileira e as maneiras pelas quais ela se manifesta em diferentes contextos. O comércio popular, a rua e a casa vem sendo seus grandes interesses de estudo. O principal procedimento em seu trabalho é a união gambiarresca, precisa e incomum de fragmentos e objetos muitas vezes reutilizados. Os resultados, usualmente de grande impacto visual, nos fazem ter a sensação de estar diante de algo que nos era doméstico e que, de alguma forma misteriosa, tomou vida. E agora, quando olhamos para eles nos ostentando suas próprias mutações, somos agraciados com sintomas da plasticidade da cultura.
vistas da exposição
caso o acaso
17 ago – 15 out 2016
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A Central Galeria tem o prazer de apresentar Caso o Acaso, exposição coletiva que propõe um diálogo entre a produção de oito artistas que desgastam e testam a resistência de materiais, normalmente considerados sólidos e usados em diferentes estruturas.
Os trabalhos rompem, inserem brechas ou ainda distorcem elementos tão diversos quanto o cimento, gesso, madeira, argila, cerâmica, vidro, além do próprio espaço expositivo. Desconstruir para reconstruir, construir para destruir, moldar a partir da arquitetura antiga ou atual, aglutinar elementos soltos em um novo objeto. São todos procedimentos observados nas obras desses artistas, nas quais a transformação da matéria se sobressai.
Assim, esses trabalhos tornam palpáveis a impermanência e fragilidade intrínseca desses materiais e das estruturas que eles suportam. Algumas obras aparecem como resquícios de um passado, que desfaz as camadas do tempo, a imagem de paredes desgatadas. Outras, devolvem organicidade e movimento à rigidez de elementos de sustentação, como tapumes e concretos. Transpassando os limites, as obras reunidas na exposição formulam um convite a considerar o avesso, o que há por detrás do muro.
Caso o Acaso promove recortes individuais, salientando o trabalho de cada artista, tanto quanto tece diálogos e relações entre as suas poéticas singulares.
Participam da exposição os artistas: Bruno Baptistelli, Theo Craveiro, Romain Dumesnil, Anna Israel, Manoela Medeiros, Brisa Noronha, C. L. Salvaro e Rodrigo Sassi.
vistas da exposição
rodrigo martins
09 jun – 06 ago 2016
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Zimbeta
Raphael FonsecaAo observar a presente exposição de Rodrigo Martins na Central Galeria, alguns elementos são constantes. É possível destacar, em primeiro lugar, a presença da pintura e da escultura como linguagens norteadoras da sua criação de imagens. Em um segundo momento, no que diz respeito àquilo que poderíamos chamar de “assunto” das suas obras, chama a atenção a recorrência de elementos que remetem à anatomia humana. Essa relação triangular entre escultura-pintura-figuração, porém, não se trata de uma equação de fórmula óbvia e é sobre o seu tensionamento que a produção do artista parece estar concentrada.
O fazer escultórico do artista se dá pelo ato construtivo da adição. Em vez de abordar a escultura como um processo de subtração da matéria (onde, por exemplo, a figura humana nasce de dentro de um bloco de mármore), Rodrigo Martins trabalha a partir da maleabilidade artesanal e se predispõe à experimentação. Um de seus interesses recentes diz respeito aos pequenos bustos espalhados pelo Rio de Janeiro que prestam homenagem a artistas de gerações anteriores. O diálogo proposto entre o presente e esses monumentos que muitas vezes são despercebidos é feito ou pelo uso de diferentes materiais como o gesso e a imitação através do olhar, ou também pela extração de moldes feitos a partir do uso direto de silicone.
Os resultados obtidos são frágeis e rapidamente fadados à distância da imitação clássica. As esculturas são apresentadas de modo tão cru quanto sua confecção – pousadas diretamente sobre o chão da galeria, elas são opacas e não escondem as emendas entre o aço e a argila ou a arbitrariedade dos encontros entre um galho e o gesso. Esculpir e modelar são, ademais de produtores de objetos brutos, processos de criação abertos ao acaso.
Quando observamos estas obras ao lado de suas pinturas, algo de seu modus operandi fica mais claro – a mesma carga matérica dos objetos é perceptível no uso do óleo sobre tela e na fisicalidade das pinceladas que sugerem uma tridimensionalidade ao espectador. Para além de sua técnica, os enquadramentos sugeridos endossam a imperfeição e estranheza de suas esculturas. O corpo humano se faz aparente de modos distintos, mas poucas vezes é mostrado em sua totalidade; há sempre algo que impossibilita que nosso olhar contemple em detalhe as faces, troncos e membros das figuras pintadas.
Algumas de suas pinturas mostram fragmentos de esculturas ou representações de objetos quebrados que são batizados por nomes que possuem uma carga identitária, tal como “Lasar”, “Michelangelo”, “Segall” e “Victor”. Essas pistas - que podem levar o espectador a esbarrar, por exemplo, no fantasma do artista Lasar Segall - sugerem narrativas que convidam o espectador a ter uma postura imaginativa. Os seus céus também não geram conforto no observador; um deles é rarefeito como a fumaça, ao passo que aquele que carrega o bairro carioca de Santa Tereza em seu nome está mais para chuva do que para sol. Em ambos, somos novamente confrontados com imagens que se apresentam entre a representação e o enigma de algo que parece estar por vir.
A pesquisa de Rodrigo Martins chama a atenção devido à potência com que constrói diferentes estranhezas para o nosso olhar. Nem mesmo o gato Zimbeta, animal que visitava com frequência o seu ateliê, é retratado de modo palatável. Sua expressão dúbia entre a desconfiança e a morbidez de um animal empalhado poderia resumir o conjunto dessas obras. Fica o convite para que o público, assim como Zimbeta, tateie com o olhar este conjunto de obras, crie paralelos temporários entre as paredes e o chão e, ao fim, saia da galeria permeado por dúvidas.
Em um momento histórico em que a verborragia e a pressão pelas certezas se impõe, manter o olhar aberto para a dúvida que uma imagem ainda pode nos colocar é, certamente, uma virtude.
vistas da exposição
o muro: rever o rumo
30 mar – 28 mai 2016
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Inaugurada em novembro de 2010 por Wagner Lungov, a Central Galeria muda de rumo sob a direção de Daniel de Lavor e Fernanda Resstom. Para marcar essa nova fase, a galeria promove uma reinauguração com a exposição O muro: rever o rumo*, apresentando trabalhos de 15 artistas de destaque no cenário nacional.
A mostra conta com obras de artistas que procuram em suas poéticas debater, investigar e problematizar nossa relação com a cidade, seja por meio de intervenções que ampliam nossa percepção diante da arquitetura ou de operações que revelam os códigos e interditos que tornam os espaços públicos, possíveis lugares de liberdade, cada vez mais em zonas de controle.
Seja na observação e uso dos materiais próprios da construção, nos deslocamentos de sua percepção ou na denúncia das estruturas de poder que formatam seus usos, a experiência do espaço é revista e desdobrada pelos artistas Alice Quaresma, Amalia Giacomini, Antonio Lee, associação massa falida, Carla Chaim, Carolina Martinez, Estela Sokol, Flavia Mielnik, Felipe Seixas, Gabriela Mureb, Gisele Camargo, Laura Gorski, Jaime Lauriano, Raphael Escobar e Tiago Mestre.
O hall de entrada da galeria, agora sempre de portas abertas, ganha parceria com o Fonte - espaço de ateliês e programa de residência coordenado pelos artistas Marcelo Amorim, Nino Cais e Simone Moraes - que agora ocupa o segundo andar do edifício. Focado exclusivamente na linguagem do vídeo, o programa “Vídeo de hoje” inaugura com uma retrospectiva do longevo projeto Exquisite Corpse da artista Kika Nicolela. Partindo da vontade de tornar o espaço mais convidativo e assim se conectar diretamente com a rua, com seus transeuntes e com a cidade, essa é apenas uma das dinâmicas que pretendem marcar essa nova fase da Central Galeria, que também repensa seus muros e seus rumos.
*Palíndromo de Marina Wisnik